terça-feira, 31 de agosto de 2010

Continuando o post anterior: Onde está o meu filho...

Onde parei mesmo?? Ah! Na internação no Hospital Conceição...


Pois bem, entrei no Hospital, fui direto para uma maca no C.O. (Centro Obstétrico), a partir dalí, passei a conviver com anjos. Todas aquelas almas bondosas, umas vestidas de branco, outras vestidas de verde; Homens e mulheres que fizeram de tudo para me confortar naquele, que eu ainda não sabia, mas, seria o momento mais doloroso da minha vida.


Gostaria de resumir tudo em algumas linhas, sem muitos rodeios. Tudo o que aconteceu comigo, foi tão doloroso, que não sei se suporto detalhar tudo, minusciosamente, como venho fazendo até então.



... Quando entrei naquela sala, cheia de mulheres prestes a dar a luz, algumas gemendo, outras calmíssimas, outras urrando de dor, confesso que senti um pouco de medo. Medo, pavor, ansiedade. Milhões de sensações. Mas, naquele momento esqueci que era uma mulher.. Senti-me uma enorme criança, que queria o colo da mãe. Até porque, o pavor que eu tenho de hospital, é porque minha mãe viveu praticamente oito meses dentro de um e, saiu de lá dentro de uma caixinha de madeira, forrada de cetim e cercada de flores branquinhas. Enfim, queria a minha mãe.

Eis que, surge em meu ladinho, uma enfermeira muito querida, parecida com a caixinhos dourados. A Inês. Inesquecível! Ela veio fazer umas perguntinhas de praxe. Queria saber o que eu sabia da minha gestação, se eu sabia o que realmente estava acontecendo, se foi uma gravidez desejada, e todos os etc's possíveis. Me medicaram diretamente na veia e arrumaram um leito para mim. Disseram que na manhã seguinte eu teria uam consulta com o Dr. responsável pelo setor de alto-risco do C.O., Dr. Spinosa se não me engano.

Recebi medicamentos para pressão, que estava um pouco alta e, para dor. Na veia, pra variar... Fiz algumas amizades no quarto, um pessoal do interior. Uma senhora que estava pra nascer o segundo filhinho, depois de treze anos e, a gestação dela estava complicada porque apareceu uma bendita diabete gestacional; Uma menina de quinze anos que estava com infecção urinária e grávida de cinco meses, mais uma moça bem querida, que eu não lembro ao certo o problema.

Passei um bom tempo conversando, até o pessoal pegar no sono. O pessoal, né; Porque eu? Nadica de nada.

Lembro-me que qando estava adormecendo, veio a enfermeira verificar minha pressão, daí, já não lembro mais nada. Até a hora que eu senti aquela dor. Sim, uma dor horrível. Foi alí, naquele instante em que eu chorei, em que eu pedia a Deus para que ele me deixasse agarrar a mão de mamãe, que eu senti meu filho indo. Indo para junto de Deus.

Juro, por tudo o que me é mais sagrado. Eu senti. Essa dor, essa sensação, ninguém me tira. E ultrasom prova. Foi naquela madrugada de solidão na cama de um hospital, que ele me foi tirado.

Aguardei, na primeira hora da manhã, não tomei nem o café que as moças trouxeram; A Enfermeira responsável naquela manhã, a Rosiê, veio me buscar, de cadeira de rodas, pois eu mal e mal conseguia caminhar, para irmos de encontro ao Dr. Spinosa e a junta médica que me aguardava.

Cheguei lá me sentindo uma celebridade. Todos queriam ver o que tinha dentro da minha barriga. Não sei se na hora senti vergonha, se senti medo, se senti algum tipo de dor. Apenas me senti.

A Rosiê me apresentou o pessoal, colocaram-me deitadinha numa maca gelaaaada, com aquele aventalzinho desconfortável, que deixa o popozão à mostra. Os doutores se apresentaram e começaram a me explicar uma série de coisas que eu já tinha ouvido, desde que descobri o problema do baby.

Quando passaram o gel na minha barriga e colocaram o aparelho, todos se olharam. Lembro que a Rosiê segurava minha mão e fazia carinho na minha testa. Igual a minha mãe, foi muito impressionante. E, sabe porque eles se olharam? Porque o coraçãozinho do meu filho já não batia mais. De toda a junta médica que alí se encontrava, não tinha um, que tivesse coragem de dizer.

Eu, muito metida é claro, ergui minha cabeça e disse: "- Ele já morreu, né Dr.?!"; Doutor Spinosa deve ter ficado espantado, tamanha frieza com que balbuciei aquelas palavras. Mas, alguém tinha que quebrar aquele gelo.

Lembro que ele disse algo do gênero: "-Pois é, o coração do bebê já não está mais batendo; Agora vamos tomar todas as providências para que tudo ocorra bem contigo." E foi assim que ele fez. Todos me olhavam com cara de piedade, talvez naquele momento eu me senti mais mal do que em toda a gestação. Todos queriam passar a mão na minha cabeça, todos diziam que eu poderia chorar; Mas, eu já tinha chorado tanto até alí.

O Dr. me explicou sobre um processo chamado amnocentese (acho que é esse o nome!), em que é retirado uma parte do líquido amniótico, através de uma seringa, pela barriga da mulher. Assim, o parto é induzido naturalmente. Decidi experimentar, já que nada mais estava em jogo, à não ser minha saúde.
A amniocentese doeu 'pacaaaas', enquanto eles iam retirando o líquido amniótico, o bebê ia se debatendo nas paredes do meu útero, dando uma sensação de mau estar, enjoadinha. Lembro que nesse momento, a 'Tici', a médica residente do Dr. Spinosa, passou mal; Não sei se era pelo fato de estar vendo tudo aquilo, a retirada do líquido tudo o mais ou, se foi pelo fato de o líquido amniótico estar fétido, já que o bebê havia falecido dentro do meu útero faziam algumas horas.
Passado aquele processo, passei umas sete ou oito horas caminhando dentro do hospital, para ver se havia dilatação. Não podia comer nada e, a única coisa que eu poderia fazer era esperar.
Garanto a vocês que a minha espera só não foi tão dura, pois a todo instante recebia ligações de familiares, amigos, pessoas próximas e muito queridas para mim; Pessoas estas, que me deram tanta força para estar bem, como estou hoje.
Por volta das cinco da tarde do dia 19 de Abril, os Drs. me chamaram e decidiram tentar a indução por Citotec; O que muitos não sabem, é que o Citotec não foi desenvolvido para curar problemas de estômago e, muito menos, para uso abortivo, mas, para produzir contrações no útero quando necessário apressar o parto ou expulsar um feto já morto do útero de uma gestante - o meu caso.
Sabia que seria doloroso, ainda mais que o Citotec, depois de algumas horas ele sendo ingerido e/ou introduzido vaginalmente, a mulher entra em trabalho de parto e expulsa o feto, e mesmo depois disso as contrações tornam-se dificilmente controláveis. As dores abdominais são intensas, muito maiores do que se fosse um aborto natural e, sempre seguidas de duradouras hemorragias.
Começamos a introdução dos comprimidos de Citotec à tarde. Virei a noite acordada. Meus familiares, meus amigos, todo mundo ia me visitar e nada. Nada de dilatação, nada nem do bebê se mexer. Comecei a me desesperar...