quarta-feira, 5 de agosto de 2009

As aulas...

Recentemente ele completara quarenta e dois anos. Professor, Mestre, Doutor e, todos os outros "títulos" que alguém pode ter, ele tinha. Dedicou mais da metade de sua vida ao estudo. Exímio em Literatura, Língua Portuguesa e em duas ou três Línguas Estrangeiras. Emanava inteligência. Seu suor não era molhado, saía em forma de palavras expressas no quadro negro.
Ele era cheio de atividades, lecionava Inglês pela manhã em um Colégio renomado na capital gaúcha, nas noites, lecionava letras na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e, nas tardes livres, fazia caridade. Você deve estar pensando, o que este homem tão atarefado poderia fazer de caridade; Como diz o ditado: Cada um ajuda com o que tem, com ele não era tão diferente.
Nas tardes livres, ele dava aulas particulares para jovens que não tinham condições de se prepararem para o vestibular da tão temida UFRGS. Eram jovens de classe média, que realmente tinham potencial. Ficava nitidamente estampada a gratidão nos olhos daqueles jovens, de idades, moradias e culturas diversas.
Roger, o professor, tinha uma estante cheia de cartas e lembrancinhas que ganhara dos tantos alunos que já passaram tardes estudando. Na escrivaninha, um porta-retrato com uma foto de um encontro de ex-alunos dele; Os sorrisos, carregados de alegria, demonstravam o orgulho e a satisfação daqueles homens e mulheres, eternos adolescentes, com um canudo na mão, exercendo sua profissão e realizados.
Dentre tantos, sempre havia um ou outro que se destacava mais; Seja pelo dinamismo, pelo desempenho e até mesmo pelo esforço que eles faziam para mostrarem-se os melhores e dignos daquela ajuda. Cada um que passou por lá, deixou um pedacinho de si e levou um pedacinho de Roger, uma parcelinha do conhecimento daquele homem maravilhoso, gentil e educado.
No ano que se iniciara, novos alunos surgiram, dentre eles, uma garota; Simpática, sempre sorridente, dedicada e super, mas super comunicativa. Tinha um sonho... Formar-se em letras. O que, despertou em Roger o desejo de ajudá-la mais ainda, pois, era o campo dele, a àrea dele, tudo o que ele mais gostava de fazer e, encontrou uma discípula!
No instante em que notaram as afinidades, Roger fantasiava como seria maravilhoso ser homenageado por ela, quando a mesma estivesse com o canudo na mão. E ela, ... Bem... Ela fantasiava outras coisas, tinha outros planos.
Cada vez que olhava seu professor, sentia calafrios, sentia-se envergonhada, sentia suas mãos suarem e seu corpo estremecer. A voz de Roger, soava aveludada em seus ouvidos. Deixara de ser admiração de uma estudante por seu mestre e, passara a ser atração de uma mulher por um homem. 'E que homem!' - pensava ela com seus botões.
Aquela guria que andava de All Star e trancinhas, passou a calçar salto alto e a deixar os cabelos soltos. Lindos. Cabelos loiros, lisos, brilhantes como o sol, no meio das costas. Os olhos amendoados eram realçados com um delineador escuro, os cílios, sempre retocados com rímel bem preto, dando um ar de mistério e maturidade àquela menina, que decidira passar para um estágio superior e tornar-se mulher.
Todas as quintas e sextas-feiras à tarde, Roger e Clarissa, a aluna, encontravam-se em um café (leia-se cafeteria), situado em um shopping de Porto Alegre, onde ficava uma antiga fábrica de cerveja. Antes das aulas, sempre sentavam por alí e tomavam um delicioso Ice Capuccino (uma espécie de café gelado, com calda, etc., só encontrado nas melhores cafeterias), o preferido dos dois, e o mais estranho de tudo é que os dois sempre frequentaram o Café e sequer haviam se cruzado.
Por essas e outras, que Clarissa trazia consigo a idéia de que o Universo conspirava sempre à seu favor; Era adepta à teoria de que tu atrai aquilo que pensas, a força do pensamento é que move o Universo, etc. 'Pode parecer bobagem mas, tem seu fundamento.' - explicava ela para as amigas.
Naquelas tardes em que encontrava seu professor, Clarissa sentia seu coração maior que o próprio peito, sentia as pernas trêmulas, as mãos sem saber o que fazer, ficavam brincando de estralar os dedos e, os pensamentos... Esses voavam! Lado à lado com os pássaros que migram para o Sul quando surge o inverno.
Os pensamentos de Clarissa, não tinham mais freios. De cá pra lá, dalí pra cá e acolá! Iam além. A garota não sabia mais se prestava atenção na aula, ou, se dava atenção aos devaneios que tomavam conta de sua mente; Todos, sem exceção, eram acerca de Roger e o que poderia acontecer quando o mesmo descobrisse as intenções de sua aluna.
Ela documentava tudo em uma caderneta com a capa dourada, diferente de um diário porque não era cadeado e muito menos guardado à sete chaves; Além do mais, ela escrevia quando bem entendia, não era diariamente. Por essas e outras, definitivamente não era um diário.
Os dias iam passando e ficava cada vez mais visível o interesse dela pelas aulas, porém, o que Roger não percebia de jeito nenhum, era o interesse de Clarissa nele; Até o dia em que recebeu um bilhete anônimo dizendo:
"Roger,
Sonhei contigo esta noite, como em tantas outras. Pensei que seria mais um sonho sem açúcar, sem sal. Porém, este foi diferente. Não tinha gosto de Ice Capuccino, muito menos dos pãezinhos de queijo que comemos juntos nas tardes em que nos encontramos.
Tinha um gosto diferenciado, de suor e beijo na boca. Claro que não era o gosto de qualquer beijo, eram os nossos beijos, nossos gostos misturados, tranformados em um só sabor e, nossos corpos entrelaçados, transformados em uma só figura; Retratada por meu subconsciente.
Não fazíamos sexo, não fazíamos amor, era prazer. Puro prazer. Eu, uma ninfeta de apenas 18 anos, tu, o mestre. Realizando apenas uma fantasia, das tantas que habitam tua mente. Do meu corpo, tu extraiu minhas forças e meu desejo. Poderia parar de procurar em outros corpos o ápice do prazer, pois, mesmo que somente em sonho, posso afirmar que senti. Senti minha alma sair do corpo quando penetravas fundo em mim, pensavas somente em aquecer teu membro rijo e, pensavas também, como poderia ser tão prazeroso sentir um corpo, quente e úmido, doando-se por inteiro.
Nos entregamos um ao outro, fomos além do prazer. Descobri sensações que ninguém havia me apresentado e tu, redescobristes o tesão. Tesão com 'tê' grandão, porque foi mesmo! Perdemos o fôlego e as estribeiras. Não te importavas com o fato de ter que olhar meu rosto na tarde seguinte, muito menos, com o fato de eu estar completamente apaixonada.
Bastava um ou dois toques para umedecer ainda mais minha vagina, na medida em que isso ia acontecendo, deslizavas com mais facilidade, tornando o ato cada vez mais gostoso, com mais sabor. Quando passei a língua em teu queixo e fui descendo até o pescoço, mordendo de leve o lóbulo de tua orelha, senti tuas pernas tremerem.
Pensei que estavas perto relaxar entre minhas pernas; Estava enganada amado, apenas aguçara mais o teu desejo por me comer. Sim. Me comer. Como falam as 'mulheres da vida'. Não era o que querias?! Estavas tendo alí, naquele instante, em meu sonho, que compartilho contigo agora e passa a não ser apenas um sonho, mas, nosso segredo.
Cada nova posição, cada gemido, cada sussuro em meu ouvido, era como se estivesse me passando lições, deveres de casa. Eu era o quadro-negro, tu o mestre, que continha o artefato que, como num passe de mágica, riscava a lousa e a deixava um tanto mais interessante.
Queria aprender mais contigo, queria sentir mais aquela sensação estranha, porém gostosa, que senti quando passavas a língua vagarosamente sobre meus mamilos, deixando-os tesos. Lhe implorei para que apertasses mais forte minha cintura, para que beijasses minha barriga, para que nunca mais saísses de dentro de mim.
Sei que depois que ler este bilhete, não vais precisar pensar muito até descobrir quem enviou. Afinal, sabes perfeitamente a capacidade de cada uma das tuas alunas e a maneira de se expressar de cada uma. Mas, fique sabendo que tomei a liberdade de não participar mais das aulas. Para que não te sintas constrangido com meus olhares de desejo ardente.
Não contarei o fim do sonho, pois, tenho em mim uma pontinha de esperança, de que irás procurar-me para deleitar-se em meu ser. Sei que posso estar fantasiando, e certamente estou; Mas, obrigada por tudo."
Acabou alí, aquele entusiasmo que Roger tinha ao encontrar com Clarissa, aquele encantamente que ele tinha acerca do fato de ela querer seguir o mesmo caminho por ele traçado. Era ela, com certeza. A letra, a capacidade de expressar-se se a mínima vergonha, sem o mínimo pudor.
Apesar dos pesares, estava genial, Roger chegou a excitar-se com o que leu minutos antes. Mas, não poderia ter um fim alí. Ele não aceitava e ao mesmo tempo não tinha coragem de ir atrás da garota, ou mulher... Enfim, não sabia mais o que ela era, tamanha era a impressão de confiança e de capacidade de tornar aquilo real, que ela deixara transparecer em suas frases.
Por um instante a decepção tomou conta de Roger, que já não sabia mais quem era quem. Se o papel de adolescente impotente caberia à ele, ou... Ah! Diabos! Nada mais vinha em sua mente, senão a frase: "Senti minha alma sair do corpo quando penetravas fundo em mim, pensavas somente em aquecer teu membro rijo e, pensavas também, como poderia ser tão prazeroso sentir um corpo, quente e úmido, doando-se por inteiro.", ou qualquer outro trecho do bilhete o deixava desnorteado.
Foi deitar e, ao recostar-se, deixou o papel cair no chão. No verso, continha apenas uma frase, escrita com caligrafia bem feminina e em letras cursivas: "Não te preocupes. Encontrei o bom e velho livro para me auxiliar nos estudos. Vou ingressar na UFRGS, podes ter certeza. Seremos colegas ainda."
Naquele exato momento, Roger fechou os olhos e adormeceu. Sonhou com algo parecido ou tão prazeroso quanto o sonho de Clarissa. Acordou com a impressão de ter realmente vivido aqueles momentos que definia como, indizíveis.
Se ele encontrou com ela por algum lugar? Nunca. Mas, uma coisa ele tinha encontrado, com certeza. A primeira mulher que o fez perder o fôlego, sem nem mesmo encostá-lo.

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